Ética no Uso da Linguagem – Pierre Weil

Ética

A palavra é de prata, o silêncio é de ouro.

Assim se expressa um velho ditado popular. Sem dúvida, é melhor calar do que usar a linguagem para prejudicar. E neste caso a palavra nem prata é, mas chumbo.

Uma frase maldosa pode arrasar com a vida de alguém, pode ferir, criar magoas e ressentimentos, levar a violência interpessoal ou mesmo a guerra internacional.

Por isto mesmo, a responsabilidade dos que falam em público e dos que escrevem livros e artigos, escritores, jornalistas, locutores comentaristas de rádio e TV, cronistas sociais, é incomensurável.

São praticamente quatro aspectos destrutivos e nocivos no uso do verbo.

Em primeiro vem o uso da linguagem para semear a desavença, o atrito e a discórdia. Muitos são os que usam a palavra com o fim de dividir para reinar. Acabam por serem descobertos e criarem desconfiança em relação a sua própria pessoa, tornando-se antipáticos. Como disse Bernard Shaw: Você pode enganar alguém todo tempo; pode enganar alguns algum tempo; mas, não pode enganar a todos o tempo todo.

Depois há os que usam palavras grosseiras, ferinas e agressivas. Além de magoarem, criam inimigos para si mesmos; organizam o inferno em torno deles.

Enfim, temos os que perdem tempo e energia em conversas ocas e inúteis. Ao proceder assim se afastam de assuntos essenciais.

O pessimismo, a violência e a corrupção prejudicam a tal ponto, que se revela indispensável uma verdadeira revolução de atitudes, uma nova consciência, uma nova ética na literatura e nas mídias.

Dizer a verdade, de modo claro e insofismável, implica em qualidade de lucidez além de imparcialidade. Esta última qualidade consiste em evitar se deixar levar por opiniões alheias, só porque provêm de autoridades ou por existir um consenso em torno do assunto. Por exemplo, descrever em detalhes as delícias de fumar, num romance ou numa novela, é uma forma de contribuir para o aumento do uso do cigarro; consiste em reforçar o que chamamos de Normose, isto é, um consenso criado em torno a uma normalidade patogênica, isto é, geradora de doença e de morte.

Pode-se considerar uma boa ética, contribuir para a reconciliação de pessoas ou grupos em conflitos. Podemos dar como exemplos peças de teatro ou filmes em que convivem harmoniosamente negros e brancos, uns colaborando estreitamente com os outros. Esforços literários reconciliação de franceses e alemães contribuem para transformar as culturas em guerras na Europa, em culturas de paz.

Outro aspecto ético da palavra é a expressão de valores positivos sob forma de ternura, doçura, amizade, amor, compaixão, meiguice. Esses sentimentos e valores têm sido reprimidos pela preocupação de objetividade e neutralidade científica, que influencia muitas disciplinas a começar pela Ciência da Educação.

A situação catastrófica em que se encontra a humanidade exige de nós todos que usemos a palavra sob diferentes formas para concentrar a nossa produção literária ou jornalística a serviço destes aspectos essenciais, assim sobrará pouco tempo para uma literatura oca e sem sentido.

Precisamos voltar ao tempo em que a palavra era considerada como sagrada, a serviço do sagrado.

Um forte e grande abraço

Damião Maximino

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